No dia 27 de dezembro de 1831, o britânico Charles Darwin, com apenas 22 anos, embarcou no HMS Beagle, um dos mais famosos navios da história da ciência, zarpou em missão de levantamento topográfico da América do Sul e regiões circunvizinhas. A jornada, prevista para cerca de 20 meses, estendeu-se por cinco anos e determinou toda a carreira do naturalista. Quando surgia a oportunidade de aportar, o jovem coletava espécimes em terras pouco exploradas. Na jornada começou a formular as ideias que culminariam no volume "A Origem das Espécies", conhecido como "o livro que abalou o mundo".
Para Agassiz Almeida, escritor e professor fundador da Faculdade de Ciências Econômicas de Campina Grande (PB), a viagem de Darwin também tinha outros objetivos : o papel de agente de Sua Majestade. Em "O Fenômeno Humano", Almeida resgata e reconstrói a viagem do naturalista britânico.
Com o subtítulo "Reais Objetivos da Viagem de Charles Darwin no H.M.S. Beagle", o título acaba de ser publicado pela editora Contexto. Almeida também é autor de "A República das Elites", "500 Anos de Povo Brasileiro: Uma Visão Crítica e "A Ditadura dos Generais".
Abaixo, trecho de "O Fenômeno Humano".
Por que escrevi este livro
Do arquipélago Fernando de Noronha às ilhas Galápagos.
Praça Josita Almeida. Barra de Santana, PB.
Praça Josita Almeida. Barra de Santana, PB.
...Nos meus cariris, de Boa Vista e Barra de Santana, lá está o velho umbuzeiro; ele produz, como se fosse possuidor da eterna juventude, flores, frutos e sementes. Muitas vezes, debaixo de sua sombra, abri com ele silencioso diálogo sobre a condição humana, do qual irromperam muitos pensamentos para a elaboração deste livro. Contemplei a paisagem que, outrora, nos meus tempos de infância e adolescência, povoava os meus sonhos e esperanças. Aquele centenário e vergastado umbuzeiro quase nos fala na sua mudez melancólica; acolá, por sobre um morro, um juazeiro eriçado de milhares de frutinhas verdes e amarelas. Oh! De que constelação essa árvore das caatingas nordestinas se veste?
Em meio a esses pensamentos, que pareciam adentrar em mim de minuto a minuto, a resplandecer lá longe, uma réstia de luz me ilumina. Comecei a acreditar que poderia olhar o futuro. O rio Paraíba apareceu-me como um ser gigantesco, a se mover numa espécie de sucuri. Nas suas cheias tormentosas ele arrebentava e carregava montões de objetos, pedaços de paus, árvores inteiras, corpos de animais, até cadáveres humanos. Para onde ides, companheiro, indaga um cigano andaluz, que, de tempos em tempos, atravessava por aquelas bandas do cariri. O rio mudo não lhe deu resposta. O mar soluçou um grito que ecoou até ali. O rio da minha infância, em disparada correnteza, abraçou a pátria oceânica.
com Folha
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